terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Os novos desenhos animados

 

 

Henrique Raposo

Expresso, 2014.12.27

É confrangedor comparar as séries e livros infantis dos anos 80 com as séries e filmes dos anos 2010. Quando é que passámos a assumir que as crianças são idiotas? Para compreenderem o que estou a dizer, só têm de comparar qualquer série dos incontáveis canais de desenhos animados da TV Cabo com "Era Uma Vez no Espaço", uma das séries da minha geração. Apostando na aventura espacial, o seu autor (Albert Barillé) colocava questões profundas à pequenada: o que é a morte? O que é Deus? O que é o inimigo? O que é a democracia? Além da profundidade da substância, convém ainda destacar as diferenças na forma, que são ainda mais decisivas. Os desenhos animados de hoje têm um ritmo frenético; um plano não sobrevive mais do que três segundos; os miúdos não são treinados para pensar, mas sim para sentir. Ao invés, o ritmo de "Era uma Vez no Espaço" é lento. Aliás, para os padrões de 2014, esta série infantil de 1982 é lenta e silenciosa até para os adultos. Não, não estou a brincar: a profundidade e a secura narrativa de "Era uma Vez no Espaço" são estranhas para os adultos de 2014. O ritmo dos "CSI" é mais primitivo e pueril do que o ritmo pensado por Albert Barillé.
Qual é a causa da estupidificação em curso? A meu ver, o problema é a recusa militante do sofrimento, é a ilegalização da morte e da dor. Até a tristeza já é considerada uma doença. Traduzindo para linguagem cristã, o problema é a recusa da cruz. É a recusa da ideia de que a bondade só existe depois do sofrimento. É a rejeição da redenção como algo que só nasce após o confronto com o mal. Os velhos contos infantis (Irmãos Grimm, por exemplo) forçavam as crianças a um confronto direto com a maldade, com a morte, com a perda. A brutalidade desses contos era uma espécie de programa de vacinação moral que tratava as crianças como futuros adultos e não como eternos Peter Pan. Ao invés, os desenhos animados dos incontáveis canais infantis oferecem uma versão higienizada da vidinha. Não há mortos, dor, pais imperfeitos, doença ou verdadeira maldade, não existem ambientes negros e soturnos. Pior: já nem sequer há uma narrativa. Os desenhos animados estão a transformar-se em meros jogos interativos, didáticos e técnicos (ensinar a contar, por exemplo); não são histórias destinadas à imaginação moral dos miúdos, são repertórios de coisas "úteis" para o seu futuro escolar.
Mas, mesmo no sentido da utilidade escolar, esta cultura técnica e amoral só pode ser prejudicial. Porquê? Sem sofrimento, não se consegue alcançar nada digno de registo. Se é educado a fazer apenas aquilo que lhe dá prazer, um garoto nunca vai perceber o sacrifício que está a montante de uma carreira de médico, engenheiro informático ou escritor. No fundo, a cultura que ilegaliza o sofrimento nos desenhos animados é a mesma que diaboliza a memorização da tabuada; a sociedade que recusa confrontar os jovens com o conceito de pecado é a mesma que fecha os olhos à destruição das regras gramaticais. Acham que estou a exagerar? Então façam o favor de comparar "Era uma vez a Vida" com os filmes que a RTP, SIC e TVI transmitem durante este período das festas. A cruz faz falta.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Mais 28 mil novos processos de crianças e jovens em risco



Mais de 28 mil novos processos de crianças e jovens em risco foram registados este ano. O número, que ainda não está fechado, corresponde a casos acompanhados pelas 308 comissões espalhadas pelo país. Muitos casos estão relacionados ao direito da educação, violência doméstica, mas também há sinalizações porque a família não tem rendimentos.

À Renascença, o presidente da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco lembra que as causas da sinalização não são novas: a crise económica associada, às vezes, à negligência, à violência doméstica, sobretudo a violência vicariante que envolve os pais e a que os filhos assistem. Mas também há o direito à educação, ou seja, o direito de concluir a escolaridade obrigatória até ao 12º ano.

Armando Leandro fala numa mudança cultural. “Há um aumento de sinalizações, que na nossa perspectiva não corresponderá provavelmente a um aumento de casos de perigo, mas a uma maior sensibilização para o dever de sinalizar. Não como um acto de denúncia, mas como um acto de amor às crianças”.

Existem ainda uma nova problemática ligada aos divórcios e às responsabilidades parentais – o conflito dos pais coloca em risco os filhos e obriga à intervenção dos técnicos.

Mas este responsável deixa um alerta: faltam meios às comissões. Os 175 técnicos anunciados no início do ano nunca chegaram e os que lá estão precisam de tempo para o exercício das suas funções.

Até meados deste mês de Dezembro, as comissões registaram 28. 387 novos processos a que se juntam os mais de 37 mil que transitaram do ano passado.

Segundo Armando Leandro, há casos de famílias referenciados durante vários anos, o que não devia ser assim, e outros que não deviam estar nas comissões de protecção mas sim nas entidades da primeira linha, da rede social, a acompanhar as famílias.

Armando Leandro está à frente da Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco há nove anos, mas assume estar pronto para ceder o lugar, em prol da reforma que está a ser discutida, a qual assenta na defesa da qualidade da infância.

FONTE: RR

O Luis e a Ana esperam o terceiro filho

O Luís e a Ana esperam o terceiro filho.
Não foi “programado” mas, já que “aconteceu” é bem-vindo. Os manos andam muito contentes, e na escola é motivo de conversa com os amigos o Pedro, que vai nascer no fim de Fevereiro (a Joana está no 4.º ano e o Mateus no 2.º ano).
A vida não está a ser fácil, com as dificuldades económicas que se fazem sentir este bebé vem trazer questões para resolver. A casa é pequena, o infantário é caro e a Ana não tem tido uma vida fácil no escritório onde trabalha. Mas a maior dificuldade sente-a a Ana porque o Luís está cada vez mais ausente. Vem tarde para casa… quase não fala, cumpre a rotina com os filhos sem grande entusiasmo… parece fugir…
Logo agora que mais precisava do marido. Com o avançar da gravidez tudo se está a tornar mais difícil. Às vezes discutem… por coisas sérias e por bagatelas. A Ana dá consigo a pensar: “Não foi para isto que me casei, não sei se ainda dá…”. Mas, logo vem outra tarefa que a chama à realidade.
O Luís diz que a Ana tem os nervos à flor da pele (que tem!) e por isso, afasta-se. A Ana está muito pesada (a gravidez aos 33 anos tem mais custos) e as tarefas da casa que lhe cabem, não são fáceis. Depois de um dia de trabalho no escritório, ajudar a Joana nos problemas de matemática é a “cereja no topo do bolo”.
No domingo, após o almoço, o Luís disse – “Amanhã é feriado – Nossa Senhora da Imaculada Conceição – é dia de fazer o Presépio. Podemos ir apanhar musgo ao pinhal”. A Joaninha sugeriu que convidassem as duas primas. E, “já que o tempo está de sol, podemos fazer um pic-nic ao almoço. Com frango assado e batatas fritas de pacote”, disse. A mãe ficou aliviada por ser menos uma refeição para pensar e, para fazer. Boa ideia!
Depois da missa lá foram todos para as cercanias da Serra de Sintra. Os 4 miúdos apanharam o musgo, correram, saltaram, subiram às árvores enfim, divertiram-se uns com os outros. A Ana estendeu as pernas e, embrulhada numa capa, ficou a conversar com o Luís sobre tudo e, sobre nada… Pelas 4 horas da tarde regressaram e deixaram as sobrinhas na respectiva casa.
Chegados a casa, mãos à obra, fizeram o Presépio. Enquanto os filhos iam colocando as figuras, o Luís pôs a tocar um CD com músicas de Natal. A Ana sentada, olhava e dava ordens.
Tocou o telefone, era a mãe das primas que agradeceu a tarde bem passada pelas filhas e desabafou: “Enfiei-me num centro comercial, estou com uma dor de cabeça, que o Presépio terá de ficar para outro dia…”.
Ali em casa era diferente. Havia uma exaltação nos miúdos e nos pais cumplicidade. Sentaram-se os quatro (ou os 5) a olhar para o Presépio, os filhos faziam perguntas: “É verdade que a estrela guiou os Magos?”, “Porque não abriram as portas a Nossa Senhora e a S. José?”, “Os primeiros a visitar o Menino Jesus foram os pastores? Porquê?”.
O Luís ia respondendo aos filhos. A Ana pensava no marido que tinha à sua frente, nas dificuldades, na letícia daquelas horas, no gosto de vencerem juntos os obstáculos e, na Esperança que todos têm neste bebé que irá nascer dentro de dois meses.
Querer ter uma casa maior, um trabalho mais fácil, um marido mais atento… querer ter mais dinheiro, mais tempo livre, mais descanso – são todas coisas boas. Mas ter este desejo vivo e ardente também é Bom. Viver nesta tensão é participar de algo Maior.
Afinal, a Felicidade faz-se de coisas boas e menos boas.
A Felicidade constrói-se fazendo o Presépio

Isilda Pegado, in voz da Verdade

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Pelo direito a nascer- apoio à maternidade

 
 
No panorama da intervenção pública desencadeada pela sociedade civil abre-se uma perspectiva de esperança com a Iniciativa Legislativa de Cidadãos lançada entre nós com o nome "Lei de Apoio à Maternidade e Paternidade – do Direito a Nascer", cuja campanha de recolha de assinaturas está em curso.
Com um mínimo de 35.000 assinaturas, o Parlamento deverá, obrigatoriamente, discutir e votar as propostas nela contidas. Elas visam alterar o regime actual de apoio à maternidade e à paternidade em vários aspectos, incluindo a regulamentação em vigor do aborto a pedido, ou interrupção voluntária da gravidez.
O direito a nascer antecede, por natureza, qualquer outro direito. Sem vida nenhum direito tem lugar. Está hoje acima de qualquer dúvida razoável que o ser que cresce no corpo de uma mulher grávida é um ser humano vivo. E, numa época dominada pela frieza das relações entre as pessoas, vale a pena lembrar que o afecto, a ternura, a tendência instintiva para a protecção que as crianças suscitam – e tanto mais quanto mais frágeis e dependentes! – só confirmam a sua natureza humana. Faz todo o sentido reconhecer a evidência de que os direitos da criança têm origem ante-natal e requerem como ponto de partida o direito a nascer.
É bom notar também que, sob o pretexto da liberdade de escolha (porque a criança, essa, não tem escolha), a mulher que aborta é, na realidade, deixada na maior solidão para tomar aquela que acaba por ser uma das mais amargas decisões da sua vida. Quantas vezes o faz violentando ou abafando o seu instinto maternal, não raro sob a coacção do companheiro ou familiares. Nem sequer lhe é dada a ver a ecografia do seu filho: não vá arrepender-se com a imagem da verdade – como deve ter pensado o legislador!
Seguramente haverá casos em que a pressão é de natureza económica e social. Mas foi para proporcionar uma oportunidade de vida às crianças cujas mães considerassem a possibilidade de abortar que, entre outras iniciativas, foi criada a Ajuda de Berço, na sequência do primeiro referendo sobre o aborto, em 1998, para apenas dar um exemplo.
A resposta às dificuldades tem de ser encontrada no caminho da vida, não da morte.
Porém, para além do drama individual da criança e da sua mãe, vale também a pena olhar para o drama colectivo (para já não falar da generalizada omissão do pai na equação).
Recapitulemos alguns números.
As autoridades da saúde – que mandam imprimir nos maços de tabaco o aviso “Fumar Mata” – informam que o número médio de abortos realizados a pedido da mulher nos últimos três anos foi de 19.000. Ou seja, no momento actual, morrem todos os anos – porque lhes é recusado o direito a nascer – tantas crianças quantas as pessoas transportadas por cem aviões Airbus 320. É como caírem dois aviões destes por semana! Ao fim de dez anos, equivale a riscar do mapa uma cidade maior do que Setúbal ou Coimbra. Uma hecatombe! Como se pode considerar normal (desejável!?) uma catástrofe destas? Caminhamos para o suicídio colectivo e não apenas o ignoramos como o promovemos.
Acresce que, num país com a mais baixa taxa de natalidade do mundo, assumem carácter vital de sobrevivência as medidas de apoio à família, especialmente às famílias numerosas.
Neste ponto têm algum mérito as alterações fiscais contempladas no Orçamento do Estado para 2015. Já não é sem tempo! As famílias são, por natureza, o ambiente próprio de acolhimento dos filhos que normalmente desejam e de que o país precisa. Em tempo de crise não é demais lembrar que a maior riqueza da sociedade são os seus cidadãos e as dificuldades agravadas pelo peso do fisco sobre as famílias não ajudam.
A nossa reduzidíssima natalidade não é, contudo, explicável apenas pelas dificuldades.
Existe também uma questão cultural de relevo, com uma alteração importante das prioridades de muitas famílias, em que a procriação foi remetida para um lugar secundário.
A globalização do consumo, na realidade, acentua o individualismo. A própria cultura prevalecente nos media que, tão capilarmente, penetra nas mentalidades só fortalece o egoísmo e a ambição da satisfação pessoal imediata. E, se é hoje corrente chamar a atenção para as responsabilidades sociais, seria bom que todos, das pessoas comuns às autoridades, dos jornalistas aos comentadores e aos responsáveis institucionais em geral, se lembrassem disso.
As gerações mais novas são insuficientes para repor as mais velhas e estas, entretanto, vivem mais tempo com o aumento da esperança média de vida que, felizmente, se tem verificado. O número de pessoas mais velhas e dependentes aproxima-se da relação de um para um, relativamente aos mais novos e produtivos. Percebe-se o problema das pensões. Todavia, ninguém deseja abandonar os benefícios do Estado social. Como?
Na situação actual, a interrupção voluntária da gravidez, mais do que despenalizada, é promovida. Mais de 20% dos abortos referidos são reincidências e todos – primeiros ou subsequentes – são integralmente financiados pelo Serviço Nacional de Saúde, ou seja, por nós, contribuintes, conferindo direito a uma licença de “parentalidade” de dezasseis a trinta dias, paga a 100% igualmente por nós, contribuintes. Isto, independentemente dos rendimentos da mulher que aborta.
Neste contexto, a Iniciativa Legislativa de Cidadãos “Lei de Apoio à Maternidade e Paternidade – do Direito a Nascer” assume o carácter de uma proposta da maior relevância para o país a merecer acolhimento e aprovação parlamentar. Os interessados poderão encontrar mais informação e impressos para assinaturas em www.pelodireitoanascer.org.
Esta é uma inovação da maior importância e só podemos esperar que, não tendo havido passos dados neste caminho pelas autoridades, os deputados não desperdicem esta oportunidade de reverter uma das piores e mais graves tendências introduzidas na nossa vida social.
Comemoraram-se recentemente os vinte e cinco anos da adopção pelas Nações Unidas da Convenção sobre os Direitos das Crianças, que Portugal ratificou em 21 de Setembro de 1990. É uma boa ocasião não apenas para procurar estimular a natalidade como para proporcionar a Portugal a possibilidade de assumir um lugar pioneiro alargando entre nós, com o direito a nascer, os direitos das crianças.
Cardiologista pediatra, presidente da Assembleia Geral da Ajuda de Berço, ex-presidente da Sociedade Europeia de Cardiologia Pediátrica

domingo, 14 de dezembro de 2014

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Defensor da liberalização do aborto em 2007, pede revisão da lei e da regulamentação

 
A actual lei do aborto está mal feita e devia ser reavaliada, defende o presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida em entrevista ao programa "Terça à Noite", da Renascença.
Miguel Oliveira da Silva sublinha que se empenhou a favor da despenalização, mas não se revê nem na lei, nem na sua regulamentação.
"Em primeiro lugar, pelo estatuto de objector de consciência, na situação de gratuitidade do aborto, a relação do aborto recorrente, não haver uma pedagogia em termos de planeamento familiar que seja correcta e dissuasora", argumenta.
Miguel Oliveira da Silva, que acentua o facto de continuar a ser favorável à despenalização do aborto, diz-se "objector de consciência em relação a esta lei".

Sobre a petição de cidadãos sobre "O Direito a Nascer", e manifestando a sua opinião pessoal, independentemente da posição formal do Conselho que preside, defende a reavaliação da lei à imagem do que acontece noutros países. 

“Em França, as leis ditas fracturantes de cariz bio-ético têm de ser revistas de cinco em cinco anos" e o mesmo devia ser feito em Portugal considera, "nem que seja para dizer ‘deliberamos, pensamos, reavaliamos e fica na mesma’".
Fonte: RR

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014