segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Como educar (bem) os filhos ?

 
 
Quando os pais, confundindo felicidade com bem-estar, centram os seus esforços em procurar que os filhos tenham tudo, que tenham todas as comodidades e que não sofram nenhuma contradição, esquecem-se de que o importante não é só amar muito os filhos – isso já costuma acontecer – mas amá-los bem. E, objetivamente, não é um bem para eles que encontrem tudo feito, que não tenham que lutar.  

A luta e o esforço que acarreta são imprescindíveis para crescer, para amadurecer, para se apropriar da existência pessoal e dirigi-la com liberdade, sem sucumbir acriticamente a qualquer influência externa.
 
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Uma criança ou um jovem, abandonado aos gostos e inclinações da sua natureza, desce por um plano inclinado que termina por anquilosar as energias da sua liberdade. Se essa tendência não se contraria com uma exigência adequada a cada idade, que provoque luta, terão depois sérias dificuldades para realizar um projeto de vida que valha a pena.

Amar bem os filhos é pô-los em situação de alcançar domínio sobre si mesmos; fazer deles pessoas livres. Para isso, é inegável a necessidade de fixar limites e impor regras, que sejam não só cumpridas pelos filhos, mas também pelos pais.

Educar é também propor virtudes: abnegação, laboriosidade, lealdade, sinceridade, limpeza..., apresentando-as de forma atrativa, mas ao mesmo tempo, sem baixar a sua exigência. Motivar os filhos para que façam as coisas bem, mas sem exagerar, sem dramatizar quando chegam os fracassos, ensinando-lhes a retirar deles experiência. Animá-los a ambicionar metas nobres, sem lhes retirar esforço. E, sobretudo, é necessário fomentar a auto-exigência, a luta; uma auto-exigência que não se deve apresentar como um fim em si própria, mas como um meio para aprender a atuar retamente com independência dos pais.
 
A criança, o jovem, não compreende ainda o sentido de muitas obrigações. Para suprir a sua natural falta de experiência necessita de apoios firmes: pessoas que, tendo ganho a sua confiança, o aconselhem com autoridade. Necessita, concretamente, de se apoiar na autoridade dos pais e dos professores, que não podem esquecer que parte do seu papel é ensinar os filhos a desenvolverem-se com liberdade e responsabilidade
 
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A autoridade dos pais diante dos filhos não provém de um carater rígido e autoritário; baseia-se antes no bom exemplo: no amor entre os esposos, na unidade de critério que os filhos vêem neles, na sua generosidade, no tempo que lhes dedicam, no carinho – carinho exigente – que lhes mostram, no tom de vida cristã que dão ao lar; e também, na clareza e confiança com que são tratados.

Esta autoridade deve exercitar-se com fortaleza, valorizando o que é razoável exigir em cada idade e situação, com amor e com firmeza; sem se deixar vencer por um carinho mal entendido, que poderia conduzir a evitar desgostar os filhos acima de tudo e que, a longo prazo, provocaria uma atitude passiva e caprichosa.  

Esconde-se um grande comodismo — e, por vezes uma grande falta de responsabilidade — naqueles que, constituídos em autoridade, fogem da dor de corrigir, com a desculpa de evitar o sofrimento a outros (...)[4]. São os pais quem deve guiar, conjugando autoridade e compreensão. Deixar que os caprichos dos filhos governem a casa revela, por vezes, o comodismo de evitar situações incómodas.

Com paciência, convém fazê-los ver quando agiram mal. Vai-se assim formando também a sua consciência, não deixando passar as oportunidades de ensinar a distinguir o bem do mal, o que se deve fazer e evitar. Com raciocínios adequados à sua idade, ir-se-ão dando conta do que agrada a Deus e aos outros, e os porquês.

Amadurecer exige sair de si próprio, e isto envolve sacrifícios. A criança, ao princípio, está centrada no seu mundo; cresce na medida em que compreende que não é ele o centro do universo, quando começa a abrir-se à realidade e aos outros.  
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Terão que aprender o que custa ganhar a vida e conviver com pessoas com maior inteligência, fortuna, ou prestígio social; enfrentar carências e limitações, materiais ou humanas; assumir riscos, se querem abalançar-se a empresas que valham a pena; e lidar com o fracasso, sem que isso provoque o colapso pessoal.

O afã de lhes aplanar o caminho, para impedir o mínimo tropeço, longe de lhes causar um bem, debilita-os e incapacita-os para enfrentar as dificuldades que encontrarão na universidade, no trabalho ou na relação com os outros. Só se aprende a superar obstáculos enfrentando-os.

Não há nenhuma necessidade de que os filhos possuam tudo, nem de que o possuam logo cedendo aos seus caprichos. Pelo contrário, devem aprender a renunciar e a esperar; não é verdade que na vida há muitas coisas que podem esperar e outras que necessariamente devem esperar?
 
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Um excesso de proteção, que afaste o filho de qualquer contrariedade, deixa-o indefeso diante do ambiente; esta atitude protecionista contrasta radicalmente com a verdadeira educação.

O termo educar deriva das palavras latinas e-ducere e e-ducare. A primeira etimologia está relacionada com a ação de proporcionar valores que conduzem ao pleno desenvolvimento da pessoa. A segunda é indicativa da ação de extrair dela o melhor que pode dar de si mesma, da mesma forma que o artista faz quando extrai do bloco de mármore uma bela escultura. Em qualquer das duas acessões, a liberdade do educando tem um papel decisivo.

Em vez de manter uma atitude protecionista, é conveniente que os pais proporcionem aos filhos a oportunidade de tomar decisões e assumir as respetivas consequências, de modo que possam resolver os seus pequenos problemas com esforço. Em geral, convém promover situações que favoreçam a sua autonomia pessoal, objetivo prioritário de qualquer tarefa educativa. Ao mesmo tempo, há que ter em conta que essa autonomia deve ser proporcional à sua capacidade para a exercer; não teria sentido dotá-los de meios económicos ou materiais que não sabem ainda empregar com prudência; nem deixá-los sozinhos diante do televisor ou a navegar na internet; como também não seria lógico ignorar os conteúdos dos videojogos que têm.

Educar na responsabilidade é a outra face de educar em liberdade. O afã de justificar tudo o que fazem, dificulta que se sintam responsáveis dos seus erros, privando-os de uma avaliação real dos seus atos e, como consequência, de uma fonte indispensável de conhecimento próprio e de experiência. Se, por exemplo, em vez de os ajudar a aceitar um baixo rendimento escolar, se culpam os professores ou a instituição académica, ir-se-á formando neles um modo irreal de enfrentarem a vida: só se sentiriam responsáveis do bom, enquanto que qualquer fracasso ou erro seria causado de fora.  

Alimenta-se desse modo uma atitude habitual de queixa, que culpa sempre o sistema ou os companheiros de trabalho; ou uma tendência para a autocompaixão e para a busca de compensações que conduzem à imaturidade.
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A autoridade dos pais depende muito do carinho efetivo que os filhos sentem. Sentem-se verdadeiramente queridos quando ordinariamente se lhes presta atenção e interesse, e quando vêem que se faz o possível por lhes dedicar tempo.  

Neste contexto pode-se ajudá-los com autoridade e com acerto: quando se conhecem as suas preocupações, as dificuldades que atravessam no estudo ou com as amizades, os ambientes que frequentam; quando se sabe em que empregam o tempo; quando se vê como reagem, o que os alegra ou os entristece; quando detetamos as suas vitórias ou derrotas.

As crianças, os adolescentes e os jovens necessitam de falar sem medo com os pais. Quanto se avança na sua formação quando conseguimos que haja comunicação e diálogo com os filhos!
O segredo costuma estar na confiança. Que os pais saibam educar num clima de familiaridade, que nunca dêem a impressão de que desconfiam, que dêem liberdade e que ensinem a administrá-la com responsabilidade pessoal.

É preferível que se deixem enganar alguma vez. A confiança que se põe nos filhos faz com que eles próprios se envergonhem de terem abusado, e se corrijam. Pelo contrário, se não têm liberdade, se vêem que não se confia neles, sentir-se-ão levados a enganar sempre
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Há que alimentar constantemente este ambiente de confiança, acreditando sempre no que digam, sem dúvidas, não permitindo nunca que se crie uma distância tão grande que se torne difícil de diminuir.

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Convém apostar fortemente na família; encontrar tempo onde parece não haver, e aproveitá-lo ao máximo. Envolve muita abnegação e, não poucas vezes, implicará sacrifícios grandes, que nalguns casos poderiam mesmo afetar a posição económica. Mas o prestígio profissional bem entendido faz parte de algo mais amplo: o prestígio humano e cristão, no qual o bem da família se situa acima dos êxitos laborais. Os dilemas, às vezes aparentes, que possam dar-se neste campo, devem resolver-se a partir da fé e na oração, procurando a vontade de Deus.

A virtude da esperança é muito necessária nos pais. Educar os filhos produz muitas satisfações, mas também dissabores e não pequenas preocupações. Não há que deixar-se levar por sentimentos de fracasso, aconteça o que acontecer. Pelo contrário, com otimismo, com fé e com esperança, pode-se recomeçar sempre. Nenhum esforço será vão, ainda que possa parecer que chega tarde ou não se vejam os resultados.  
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Educar para a vida: tarefa de amor.

A. Villar

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