sábado, 22 de dezembro de 2012

O Natal segundo Alfred Delp



            No Natal do ano passado, pela primeira vez, descobri a impressionante figura do alemão Alfred Delp. Ele foi envolvido na conspiração de Julho de 1994 na qual se atentou, sem sucesso, contra a vida de Hitler. Na realidade, ele não tinha nada a ver com o assunto, tendo-se limitado unicamente a participar em reuniões de reflexão sobre a doutrina social da Igreja, dos quais faziam parte alguma da elite católica alemã que, de facto (essa sim) esteve envolvida na tentativa de assassinato de Hitler. Apesar da sua inocência, Alfred Delp é encarcerado e torturado na famosa prisão de Plotzensee.

E é assim que, no Natal de 1944, preso, Delp escreve uma meditação sobre o Advento, preparação para o Natal. Aí defende que ter esperança não é só um mero wishful thinking, um acreditar num futuro positivo que gostaríamos muito que acontecesse mas que não sabemos, ao certo, se, de facto, acontecerá. Para Delp, ter esperança implica uma nova atitude que, já de per si, transforma o próprio presente. Como este texto, mantém hoje, em particular, nestes tempos de crise, uma enorme actualidade, aqui deixo alguns excertos mais significativos:

“Podemos questionar-nos sobre porque é que Deus nos enviou para este tempo, porque é que Ele enviou este vendaval sobre a terra, porque é que Ele nos mantém no meio deste caos onde tudo parece sem esperança e negro e porque é que não parece haver fim à vista para esta situação. A resposta para estas questões reside talvez no facto de termos vivido na terra num estado de segurança completamente falso e forjado (…) nós acreditámos realmente que podíamos, com o poder das nossas próprias mãos e braços, trazer as estrelas do céu até à terra e acender labaredas de eternidade no mundo.  (…).

A grande questão do advento para nós consiste, pois, em saber se se saíremos destas convulsões com esta firme determinação. Sim, ergueí-vos ! É altura de acordar do sono.

(….) De longe soam as primeiras notas das flautas e dos jovens que cantam, ainda que não discerníveis para nós como um canção ou melodia já acabada. Ainda está tudo muito longe e só agora foi anunciado e profetizado. Mas está já a acontecer. Isto é hoje. E amanhã os anjos contarão o que se passou em altas e rejubilantes vozes e nós saberemos isso e alegarar-nos-emos, se tivermos acreditado e confiado no Advento”.

Semanas após escrever este texto, a Gestapo propõe a Delp que, em troca da sua imediata libertação, aquele deveria assinar um documento onde renunciaria a todas as suas convicções. Alfred Delp recusa e, a 2 de Fevereiro de 1945, é executado por enforcamento.

Feliz Natal para todos !

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