segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O renascer da religião como meio para superar a crise


Verificamos que a Igreja Católica e, em particular, a Portuguesa perdeu a influência positiva que tinha sobre a socidade e a formação das pessoas. Curiosamente, aquele que, com mais autoridade a tem criticado, ainda que de forma subtil, delicada e discreta tem sido precisamente o Papa Bento XVI em particular em 2 aspectos: o clericalismo e a excessiva generalidade da sua pregação.
Quanto ao clericalismo, a crítica foi feita na última visita ad limina dos Bispos portugueses a Roma. Aí o Papa chamou à atenção da Igreja Portuguesa para a importância do laicado. Esta situação contrasta com a mentalidade que ainda hoje perdura que vê a paróquia como um lugar de chegada e não como um lugar de partida.

Também a ideia, a meu ver, errada que considera que a paróquia, além das actividades religiosas, deve desenvolver outras actividades de cariz social ou educativo, como lares e creches. Para mim, isto apenas deve acontecer com carácter supletivo e a missão do pároco há de ser, em 1º lugar, atender os seus paroquianos nas suas necessidades espirituais e só residualmente em outras actividades que não tenham a ver directamente com o exercício do seu múnus espiritual. Por alguma razão, aliás, o Papa invocou S. João Batista Vianney, o cura d’Ars, como modelo no último ano sacerdotal, um padre de aldeia que gastava horas no confessionário, no acompanhamento e atendimento às pessoas e às suas dificuldades concretas.

O que o Papa pretende não são “ratos de sacristia”, mas sim cidadãos esclarecidos na sua fé e activos na sociedade. Diz Ratzinger “segundo se pensa, deve sempre haver uma actividade eclesial, deve-se falar da Igreja ou deve-se fazer qualquer coisa por ela. Mas um espelho que apenas reflecte o próprio não é um espelho. Pode acontecer que alguém exerça ininterruptamente actividades eclesiais e contudo não seja de facto um cristão” (O Papa Bento XVI. A Tornielli. Pág. 116).
Por outro lado, em Maio deste ano, no discurso aos Bispos Portugueses, o Papa Bento XVI chamou-os à atenção para o facto da mensagem da Igreja “ muito dificilmente (…) poderá tocar os corações graças a simples discursos ou apelos morais e menos ainda a genéricos apelos aos valores cristãos” .

E no ponto 59 da última Exortação Apostólica “Verbum Domini”, o Papa diz “Devem-se evitar tanto homilias genéricas e abstractas que ocultam a simplicidade da Palavra de Deus, como inúteis divagações que ameaçam atrair a atenção mais para o pregador do que para o coração da mensagem evangélica”

De facto, com todo o respeito, se olharmos para os discursos da maioria dos párocos ou mesmo dos senhores Bispos, nas suas homilias e discursos, vemos que há um apelo a lugares-comuns e frases feitas, tais como “fazer o bem”, “alcançar a paz”, “viver o amor” e outras que são completamente genéricas e vagas e nada nos dizem ou aconselham sobre as necessidades concretas do nosso dia a dia.

Há uma enorme falta de argumentos dedutivos que não se limitem a explicar ou a repetir as histórias bíblicas, mas, antes, partam do geral para o particular e desçam ao concreto, ao homem situado nas suas circunstâncias pessoais, familiares, profissionais e civicas.
Se as Igrejas cristãs, e em particular, a Igreja Católica Portuguesa em conjunto com a escola e as famílias renascessem com novo fôlego, certamente venceríamos esta crise e garantiríamos um futuro mais risonho para os nossos filhos.
Artigo publicado no mensário "Notícias de S.Brás", edição de Dezembro.

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