sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ernani Lopes


Nasceu em Lisboa há 68 anos. Do seu casamento nasceram quatro filhos e pôde jogar e alegrar-se com seis netos. Doutorou-se em Economia pela Universidade Católica, em 1982. Ocupou diversos cargos de grande responsabilidade, tais como o de ministro das Finanças (1983/85) e chefe da Missão de Portugal junto das Comunidades Europeias, em Bruxelas (1979/83). A propósito da sua experiência de governante, afirmou: ”Nenhuma destas situações foi procurada por mim. Tenho consciência que só poderia exercer estas missões, naquele momento, alguém que soubesse bem o que ia fazer e assumisse uma atitude interior de despojamento total, para aguentar a pressão e não fazer cedências”. Procurou cultivar, assim, nos diversos lugares por onde passou o espírito de missão.(...)
Em Outubro de 2005, foi-lhe diagnosticada uma doença cancerosa, na medula. Assumiu publicamente a sua doença. Era nesta ocasião presidente da PT, por isso comunicou logo a seguir, aos colegas, o seu estado de saúde, com estas palavras. “Graças a Deus a doença está agora controlada (…). Os médicos nunca falam de cura. O termo técnico é “remissão completa”. Vamos ter prudência com o verbo curar”.
Da sua passagem pelo IPO, registou na memória a solidariedade entre todos, bem como a perplexidade e sofrimento que sentiu ao ver crianças inocentes a sofrer. Afirma ainda:”Uma das coisas que mais me chamou a atenção no IPO é que em vez de estar centrado no médico, o instituto está centrado no doente”.
Quem passa por esta doença sabe que o momento crucial é o do diagnóstico, pois tudo muda na vida: “Depois ganhamos distanciamento - afirmou - em relação à realidade e uma profundidade de leitura que não se consegue obter por simples estudo, ou trabalho académico. É uma questão de vivência interior. E percebe-se, como nunca noutras condições, a natureza da realidade e vê-se o que há de profundamente igual entre todos os seres humanos, filhos de Deus”.
“A doença – afirmou ainda – foi, a nível espiritual, uma das maiores bênçãos de Deus que tive na minha vida, porque me levou a um aprofundamento da vida religiosa e da dimensão espiritual”. Mesmo se, na sua vida de cada dia, a fé foi “uma trave-mestra”.
Ao referir a sua experiência como economista chamado a exercer cargos públicos, explicou: “No plano da vida civil há duas coisas que não se podem pôr na penumbra: a responsabilidade de cidadania e o sentido de Estado. A vida colectiva assenta nestes dois conceitos. Se tentamos construí-la na base da golpada, do compadrio e da irresponsabilidade, para efeitos de folclore mediático, é tudo mentira”.
Sempre o preocupou muito o que se passa com as novas gerações, pois “a escola deixou de transmitir valores, atitudes e padrões de comportamento. A família vive um período de grande turbulência e perdeu grande parte desse papel”.
Ernâni Lopes era, actualmente, director e professor do Instituto de Estudos Europeus da Universidade Católica e sócio-gerente da consultora SaeR.

N.M.
(Texto baseado na entrevista ao Expresso –Única, de 30 de Setembro de 2006)

Fonte: Protagonistas

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