quarta-feira, 10 de março de 2010

Textos do Algarve pela Vida desta semana na rubrica da Rádio Costa D'Oiro



Dia 9 – Segundo o Juiz Vaz Patto, nos tempos que correm, o Homem criou mecanismos para evitar o acto de pensar. Pensar é uma maçada, e o dia-a-dia está todo virado para comportamentos mecanizados e automáticos. Levantar-se, levar os filhos à escola, ir para o emprego, trabalhar, descomprimir com os colegas conversando frivolidades, regressar a casa, comer, e dormir para no dia seguinte dar início a um novo ciclo. As várias oportunidades para pensar que, habitualmente, ocorrem ao fim de semana são preenchidas com outras obrigações sociais ou com divertimentos, cuja característica principal é precisamente não "puxarem pela cabeça". Afinal esta encontra-se bastante cansada com a extenuante semana de trabalho. Mentimos para nós próprios com a singela ideia de que tudo será diferente quando vierem as férias ou mesmo a reforma.
Passamos o tempo entretidos com tarefas rotineiras, sequestrados num transe redundante, e os momentos de silêncio desapareceram das nossas vidas. O velho exame de consciência (mais modernamente designado por introspecção) caiu em desuso, e já ninguém olha para dentro de si para perceber como estão as coisas cá dentro. As pessoas cada vez mais desconhecem-se a si próprias, gerando um sentimento de vazio que não se preenche com objectos materiais.
Seja como for, amanhã, na deslocação para o trabalho, quando guiar o seu carro, desligue o rádio, o telemóvel, e pense. Afinal... como vai a sua vida?


Dia 10 – Um grupo de alunos da Escola Secundária de Albufeira promoveu um debate sobre homossexualidade no âmbito do projecto área escola denominado "Quebra-tabus".
Numa altura em que muitos jovens se alheiam da sociedade e dos seus problemas, tratou-se de uma iniciativa muito meritória e bem preparada.
Os jovens organizadores tinham perguntas muito pertinentes preparadas para fazer a ambos os lados.
Não houve uma postura de tomada de posição de um lado contra o outro, mas sim um querer questionar ambas as partes, deixando depois aos jovens a liberdade de escolherem qual a posição que, para si, acharam melhor.
Num ponto, todos estiveram de acordo:
- A importância de não ostracizar, diminuir e muito menos ofender as pessoas que vivem um relacionamento entre pessoas do mesmo sexo.
Sobre a matéria da adopção curiosamente até se alcançou um entendimento mais ou menos unânime entre todos os intervenientes.
Destaco também, pela positiva, o modo como Prof. Serzedelo, presidente da Opus Gay, se dirigiu aos seus opositores.
Numa sociedade pluralista e democrática, é assim que o debate se deve fazer, de forma correcta e bem-educada, ao contrário de muitos outros que ofendem, atacam e até ameaçam quem pensa de forma diferente, e, por maioria de razão, ainda mais quando o debate nasce do seio de uma escola pública.
Parabéns aos alunos João Rafael, Marisa Vieira e Miriam Pacheco, do 12º D, ao seu professor de biologia que, de forma muito pedagógica, tem apoiado esta iniciativa.
Da nossa parte, mais uma vez, o nosso obrigado ao Prof. Dr. Jorge de Bacelar Gouveia que, apesar da sua agenda na Assembleia da República, e com algum natural sacrifício pessoal, se disponibilizou, mais uma vez, para estar presente num debate sobre esta temática.

Dia 11- Daniel Sampaio comentou assim no Público. Merece toda a atenção a proposta de escola a tempo inteiro (das 7h30 às 19h30?), formulada pela Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap). Percebe-se o ponto de vista dos proponentes: como ambos os progenitores trabalham o dia inteiro, será melhor deixar as crianças na escola do que sozinhas em casa ou sem controlo na rua, porque a escola ainda é um território com relativa segurança. Compreende-se também a dificuldade de muitos pais em assegurarem um transporte dos filhos a horas convenientes, sobretudo nas zonas urbanas: com o trânsito caótico e o patrão a pressionar para que não saiam cedo, será melhor trabalhar um pouco mais e ir buscar os filhos mais tarde.
Não estaremos a remediar à pressa um mal-estar civilizacional, pedindo aos professores (mais uma vez...) que substituam a família? Se os pais têm maus horários, não deveriam reivindicar melhores condições de trabalho, que passassem, por exemplo, pelo encurtamento da hora do almoço, de modo a poderem chegar mais cedo, a tempo de estar com os filhos? Não deveria ser esse um projecto de luta das associações de pais?
Importa também reflectir sobre as funções da escola. Temos na cabeça um modelo escolar muito virado para a transmissão concreta de conhecimentos, mas a escola actual é uma segunda casa e os professores, na sua grande maioria, não fazem só a instrução dos alunos, são agentes decisivos para o seu bem-estar: perante a indisponibilidade de muitos pais e face a famílias sem coesão onde não é rara a doença mental, são os promotores (tantas vezes únicos!) das regras de relacionamento interpessoal e dos valores éticos fundamentais para a sobrevivência dos mais novos. Perante o caos ou o vazio de muitas casas, os docentes, tantas vezes sem condições e submersos pela burocracia ministerial, acabam por conseguir guiar os estudantes na compreensão do mundo. A escola já não é, portanto, apenas um local onde se dá instrução, é um território crucial para a socialização e educação (no sentido amplo) dos nossos jovens. Daqui decorre que, como já se pediu muito à escola e aos professores, não se pode pedir mais: é tempo de reflectirmos sobre o que de facto lá se passa, em vez de ampliarmos as funções dos estabelecimentos de ensino, numa direcção desconhecida. Por isso entendo que a proposta de alargar o tempo passado na escola não está no caminho certo, porque arriscamos transformá-la num armazém de crianças, com os pais a pensar cada vez mais na sua vida profissional.
A nível da família, constato muitas vezes uma diminuição do prazer dos adultos no convívio com as crianças: vejo pais exaustos, desejosos de que os filhos se deitem depressa, ou pelo menos com esperança de que as diversas amas electrónicas os mantenham em sossego durante muito tempo. Também aqui se impõe uma reflexão sobre o significado actual da vida em família: para mim, ensinado pela Psicologia e Psiquiatria de que é fundamental a vinculação de uma criança a um adulto seguro e disponível, não faz sentido aceitar que esse desígnio possa alguma vez ser bem substituído por uma instituição como a escola, por melhor que ela seja. Gostaria, pois, que os pais se unissem para reivindicar mais tempo junto dos filhos depois do seu nascimento, que fizessem pressão nas autarquias para a organização de uma rede eficiente de transportes escolares, ou que sensibilizassem o mundo empresarial para horários com a necessária rentabilidade, mas mais compatíveis com a educação dos filhos e com a vida em família.
Aos professores, depois de um ano de grande desgaste emocional, conviria que não aceitassem mais esta "proletarização" do seu desempenho: é que passar filmes para os meninos depois de tantas aulas dadas - como foi sugerido pelos autores da proposta que agora comento - não parece muito gratificante e contribuirá, mais uma vez, para a sua sobrecarga e para a desresponsabilização dos pais.


Dia 12 - Os CTT lançaram uma campanha nacional de recolha de bens essenciais para envio para a Madeira, no âmbito do seu Programa de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social, com aceitação em todas as 900 Estações de Correio do País.Basta a qualquer pessoa dirigir-se a uma Estação de Correios, pedir a caixa solidária grátis, enchê-la com os bens e marcar como destinatário a palavra MADEIRA.Não é preciso selo nem mais morada e o envio é grátis.Os CTT tratam de entregar os bens.A Instituição destinatária será a Caritas da Madeira que, já informou que estavam a precisar principalmente dos seguintes produtos/bens:- Lençóis- Cobertores- Mantas- Almofadas- Roupa interior (H/ S e criança)- Roupa em geral- Produtos de higiene- Fraldas- Leite em pó- Comida para bebé- Enlatados
Ajudar não custa…hoje pelo outro amanhã por si!

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