domingo, 16 de agosto de 2009

O valor da vida humana para uma certa tradição judaíca


Uma das afirmações mais eloquentes sobre o valor da vida humana vem de uma fonte muito estranha: a admoestação administrada pelos antigos tribunais judaicos às testemunhas em casos envolvendo a pena capital. Além dos esperados avisos contra o perjúrio, os juízes ofereciam um comentário sobre a razão por que Deus povoou originalmente o mundo com uma só pessoa, Adão. «Para nos ensinar,» avisava-se a testemunha, «que quem quer que destrua uma vida é considerado pela Torá como se tivesse destruído um mundo inteiro, e quem quer que salve uma vida é considerado pela Torá como se tivesse salvado um mundo inteiro» (Mishna Sanhedrin 4:5).

Tendo sugerido pelo menos uma lição ética que pode ser aprendida da criação singular de Adão, os rabinos propunham duas outras: «[Deus criou toda a humanidade através de Adão] em nome da paz entre as pessoas. Assim, ninguém pode dizer ao seu próximo, «O meu pai é mais que o teu pai [já que todos os seres humanos descendem do mesmo pai]». Além disso, a criação de Adão «proclama a grandeza de Deus, pois, quando um homem bate muitas moedas com um só cunho, elas são idênticas, mas o Rei dos Reis, Deus, fez cada ser humano com o selo de Adão, e nem um é igual aos outros». [...]

A crença rabínica de que cada vida humana é de valor infinito tem implicações legais, e não apenas homiléticas. Significa, por exemplo, que salvar muitas vidas, a expensas de uma vida inocente, não é permitido, pois, por definição, muitos «infinitos» não podem valer mais do que uma «infinidade».


Tradução de Jorge Costa, via Cachimbo de Magritte

Sem comentários: