sexta-feira, 27 de março de 2009

Os maus pais são os que acham que a criança tem direito a tudo


O Pediatra e psicanalista, Aldo Naouri veio a Portugal lançar o seu best-seller «Educar os Filhos – uma urgência nos dias que correm». Incisivamente, desconstrói alguns dos mitos actuais sobre educação e aponta os erros que muitos pais cometem ao educar, deseducando, os seus filhos.


1º O casal vem primeiro, e os filhos depois.

Se os pais estão bem um com o outro, se estão unidos e se valorizam o casal como a força fundadora da sua família, os filhos vão estar melhor ainda.


2º As crianças não se desenvolvem apenas com amor.

É necessário colocar limites e assumir a autoridade que o papel de pais nos dá. Só assim as crianças crescem e se tornam indivíduos sociais e sociáveis, capazes de pensar nos outros.


3º A frustração é essencial para a educação das crianças.

O papel dos pais não é seduzir os filhos, dar-lhes uma imagem de uns companheiros fantásticos, mas educá-los. Frustrá-los é absolutamente necessário, indispensável para que venham a ser pessoas realizadas e felizes.


Ainda não li o livro todo mas parece muito bom.

Gostei do que disse.

Termina a sua entrevista com uma explicação fantástica sobre as causas da actual crise económica: “O que não tenho dúvida nenhuma é que a crise económica foi provocada por indivíduos mal educados! Pessoas que continuaram em adultos a comportarem-se como uma criança que acredita estar sozinha no mundo e ser o centro do universo.

Um bebé adulto que mete tudo ao seu bolso, sem pensar nas consequências para os outros…”

O problema destas pessoas é que como foram “Mal-Educadas” foram incapazes de desenvolver a Empatia tão necessária para sentir compaixão pelos outros.




E ainda via "É o carteiro":


Os pais têm mais direitos do que os filhos?


Hoje os pais procuram o prazer da criança e devia ser ao contrário. Os pais têm mais direitos, mas também mais deveres. O direito de saber o que é que lhes convém e às crianças e o dever de o impor à criança.


Não é isso a ditadura?


Não! Não é ditadura, mas autoridade. Se os pais continuarem a dar todos os direitos à criança, começam a pedir-lhe autorização para sair à noite, para fazer esta ou aquela compra. Em França, 53 por cento das decisões sobre que produtos comprar são decididas pelas crianças. Alerto para o risco de estarmos a criar tiranos.


Que tipo de adultos estamos a criar?


A mensagem do marketing insiste na importância dos filhos, o que paralisa os pais.

A mensagem tem como objectivo aumentar o consumo. E estamos a criar crianças tiranas, autocentradas, perversas, que só pensam nelas.


São crianças que não sabem reagir à frustração? Que efeitos pode a actual crise económica ter sobre elas?


A crise económica é já um resultado de uma educação irresponsável.


Isso significa que as duas gerações anteriores já foram educadas nesse paradigma de que a criança é o centro do mundo?


Sim. As coisas começaram a mudar a partir do momento em que entrámos numa sociedade de abundância. Antes disso, dizíamos: "Não se pode ter tudo." A partir dos anos de 1955/1960, passámos a dizer: "Temos direito a tudo." A partir desse momento, começou a crescer a importância do "eu, eu, eu".


Sempre pensou assim, ou, à medida que foi envelhecendo, foi mudando?


As crianças vão ao meu consultório e não têm problemas. Porquê? Porque trato rapidamente desta dimensão da educação com os pais. Quando estes falam com outros pais, recomendam-me: "Vai falar com Naouri." E eles vêm.

Preciso de duas ou três consultas para resolver os problemas com eles. Porquê? Porque dou este tipo de explicações.


Quais são as principais queixas dos pais?


Falta de disciplina, mau comportamento, desobediência nas horas de comer, tomar banho ou de dormir. Os pais pedem socorro, porque não conseguem reprimir as pulsões das crianças.

Seja uma criança de um, três ou sete anos, procedo sempre do mesmo modo. Falo com os pais, escuto o que se passa, agradeço à criança por me ter vindo ver e ter trazido os pais e digo-lhe ainda que me vou ocupar dos pais. Em 80 por cento dos casos, as coisas ficam em ordem.


Como é que os pais sabem que são bons pais?


Os bons pais são os que permitem à criança poder desejar. Os excelentes não existem. Todos os pais têm defeitos, os maus são os que acham que a criança tem direito a tudo.


Qual é a sua opinião sobre as novas famílias, as monoparentais, as homossexuais, as divorciadas que voltam a casar... Podem ou não ser boas educadoras?


Em nome do egoísmo pessoal tomamos decisões que são prejudiciais para as crianças. As crianças filhas de pais divorciados divorciam-se mais rapidamente. As crianças de famílias monoparentais são crianças sós. Quanto aos casais homossexuais, a criança é como que um produto. Temos direito à felicidade, à saúde, a tudo o que queremos e também a uma criança. Isso é desumanizante.


Deviam existir escolas de pais, para estes aprenderem a educar?


Pessoalmente acho que a escola de pais vai ainda paralisá-los mais. Eles recebem demasiadas mensagens, algumas contraditórias e que paralisam. Defendo que os pais devem ser pais, que não tenham medo de o ser e de ter confiança. Se assim agirem, saberão o que fazer.


Fonte e entrevista completa em Suplemento P2 do "Público" - 25-03-2009

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