terça-feira, 17 de março de 2009

Bella


Uma empregada de restaurante, solteira, vê-se confrontada com uma gravidez inesperada e um despedimento. A extrema solidão com que vive esta situação parece conduzi-la ao aborto como saída inevitável. Um seu colega de trabalho, movido por um amor desinteressado, pretende apoiá-la e demove-la dessa opção. Neste está ainda vivo o remorso pela morte de uma outra criança, por ele involuntariamente provocada num acidente de viação. A sua vivência familiar, calorosa e acolhedora, típica da cultura mexicana, proporcionam-lhe aquela força e esperança que a ela faltam. Será ele mesmo a dar aquele passo decisivo para que não se perca a vida de uma criança que ainda há-de dar grande alegria à sua mãe.

O drama do aborto, tão frequente e discutido, tem estado (porquê?) quase ausente dos guiões cinematográficos. Neste filme, porém, é o tema central. Nele se retrata a experiência dilacerante de muitas mulheres que enfrentam sozinhas esse drama, mostrando, também, que o amor permite sempre abrir a porta a alternativas.


«Deus ri-se dos nossos projectos» - com este pensamento se inicia o enredo do filme. Dito de outra maneira: «Deus escreve direito por linhas tortas»; não imaginamos as felizes surpresas que a vida nos reserva por detrás das contrariedades.


Venho tendo alguma dificuldade em recomendar filmes. Neste caso, faço-o sem quaisquer reservas: pela autenticidade dos actores, pela intensidade dramática, pela ausência de cedências à vulgaridade e pela limpidez da mensagem.


Bella, direcção de Alejandro Monteverde, com Eduardo Verastégui e Tammy Blanchard.


Pedro Vaz Patto
(em Lisboa nas Amoreiras e Corte Inglés)

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