sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A BANALIZAÇÃO DO MAL

Leio "Eichmann em Jerusalém", de Hannah Arendt. Não foi um livro bem aceite na altura, quer pelos sionistas extremos, quer pela "nova" Alemanha. Eichmann era pouco mais que um bronco, um burocrata que, como afirmou no julgamento, não sabia viver num mundo sem regras, sem autoridade, sem "a boa ordem". Foi desprezado pela "aristocracia" nazi e servia perfeitamente para tratar da intendência da Endlösung: as deportações, primeiro, e a eliminação maciça, no fim. Mas não era de Eichmann que queria falar. Leio esta notícia e, salvo as devidas proporções, é da mesma forma bronca de cumprir as regras que se trata. A lei do aborto é, em si mesma, um imenso aborto. Falar de "previsões" acerca da interrupção de gravidez, ou seja, da possibilidade ou não possibilidade de uma vida, é a gramática "moderna" da banalização do mal. Discorre-se sobre a distância em relação às "previsões" quanto a abortos a realizar por comparação com os efectivamente perpetrados no SNS com a mesma ligeireza com que os funcionários do III Reich elaboravam sobre a concretização das "previsões" exterminadoras. Um sr. dr. Jorge Branco, director de uma maternidade (?), até se «congratula com estes valores, aquém do previsto, e acentua ainda o "grande predomínio" da interrupção da gravidez com recurso a medicamentos em vez da opção pela cirurgia», acrescentando ser «menos agressivo e menos traumático para a mulher», tal como o gás era menos "agressivo" do que um tiro na nuca. Em suma, seis meses depois da lei entrar em vigor, o aborto clandestino que os "progressistas" diziam vir combater com ela, prospera, bem como o negócio privado realizado à sua sombra. A "boa ordem" não funciona. A banalização do mal nunca resolveu um problema à humanidade.

"Post" daqui.

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