domingo, 26 de agosto de 2007

Hospitais pouco sensibilizados para os cuidados continuados

Uma Sociedade que envelhece também tem de se preocupar com os idosos, uma grande percentagem da população necessitada de cuidados continuados
Hospitais pouco sensibilizados para os cuidados continuados
Os hospitais ainda não estão sensibilizados para a existência de uma rede nacional de cuidados continuados integrados (RNCCI). E continuam a não referenciar os doentes que podiam para unidades de convalescença onde estes se reabilitem após episódios agudos de doença. A prova está no balanço do primeiro meio ano de funcionamento da rede apesar de estarem longe de cobrir as necessidades do país em cuidados continuados, as 898 camas então existentes só conseguiram uma taxa de ocupação de 71%.


Os números constam do Relatório de Monitorização da Implementação das Experiências Piloto da RNCCI, a que o JN teve acesso e que permite, ainda assim, um balanço positivo, no entender da coordenadora da Unidade de Missão dos Cuidados Continuados.




"Conseguimos, em seis meses, operacionalizar no terreno uma rede com 56 parceiros e mais de 900 camas e atender 1400 pessoas", congratulou-se ao JN Inês Guerreiro, que admite, contudo, a necessidade de esforço de sensibilização dos serviços hospitalares para a referenciação de doentes que não precisem de internamento agudo.




Defeito cultural




E se as vagas para cuidados continuados de média e longa duração (ver caixa) ou paliativos estiveram todas ocupadas, o mesmo não se passou com as camas de convalescença, para recuperação rápida após um episódio de doença aguda. O problema, diz Inês Guerreiro, está na "cultura" instalada, que "leva tempo a mudar". Os hospitais mais pequenos, explica, perderam a sua missão de hospitais de agudos (limitada às unidades mais diferenciadas) e acabaram por servir para receber doentes com altas dos grandes estabelecimentos.




"Em 2003, havia 65 mil pessoas internadas mais de 20 ou 30 dias. Ou seja, há uma oferta subjacente, não assumida, dentro do próprio Serviço Nacional de Saúde", uma situação que a responsável classifica como "perversa" para a própria melhoria da autonomia e independência da pessoa. A recuperação das capacidades perdidas na sequência de um episódio agudo de doença exige uma abordagem multidisciplinar, que os hospitais, centrados na intervenção biomédica, não conseguem oferecer.




Profissionais alheios




Este parece ser, aliás, o maior engulho na implementação da RNCCI, para a eliminação do qual, admite Inês Guerreiro, é preciso "um trabalho de muita formação, informação e sensibilização dos hospitais". E o facto de cada unidade ter uma equipa de gestão de altas para referenciar doentes para os cuidados continuados não resolve o problema.




"Estas equipas recebem dos serviços de internamento a identificação dos doentes e referenciam-nos. Se os serviços não os identificarem em tempo útil, as equipas não podem referenciar nada".




A RNCCI "não é ainda do domínio geral dos profissionais de saúde, nem dos cidadãos" e o desafio da Unidade de Missão está em "trabalhar muito na passagem da mensagem", sobretudo "no interior do hospital", onde ainda não chegou. Até lá, "imensas pessoas continuam a ser enviadas para casa, onde o acompanhamento é negligenciado, ou para lares que não estão preparados para tal". A mudança de cultura, admite, vai levar "anos".



24.08.2007 Fonte: Jornal de Notícias
Notícia daqui.

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